Se você trabalha em um posto já sabe: os valores dos combustíveis oscilam diariamente! Agora, quem precisa abastecer com regularidade como os caminhoneiros, sentem na pele (e no bolso) as consequências dessa instabilidade. Somente nos dois primeiros meses de 2021, o diesel e gasolina acumularam um aumento de 27,5% e 34,8% respectivamente. Os dados são da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

1 – O dólar e o preço do combustível

Apesar de sermos um dos maiores produtores de petróleo do mundo e sermos autossuficientes – ou seja, atendemos nossas necessidades de consumo – o valor de mercado do dólar está diretamente ligado a alta dos combustíveis.

Isto porque o preço do petróleo, base da gasolina e do diesel, depende da flutuação do preço do barril no mercado internacional. O produto faz parte de um grupo de commodities (produto de origem primária), com classificação de qualidade e preço padronizado.

Mesmo sendo um grande produtor de petróleo, o Brasil ainda precisa importar o produto refinado para atender a demanda local.

O mercado internacional, por sua vez, se utiliza do dólar como moeda universal para precificar o petróleo – já que ele oferece menos incertezas em comparação às demais moedas existentes no mundo.

Com isso, com a desvalorização e oscilação constante do real comparada a moeda americana, o valor atualmente tende a ser mais salgado

2 – Composição do preço: impostos altos e custo de produção elevado

Realização Petrobras

Custo que a empresa tem na exploração, produção e lucro do combustível. Vale lembrar aqui que o custo pago para refinar o produto está diluído nessa porcentagem

Impostos

Se somados, eles correspondem a uma boa parcela do valor da gasolina. Vamos entender o que significa cada um deles?

Custo Etanol Anidro

A gasolina vendida nos postos não é a mesma que a Petrobras repassa as distribuidoras. Isso porque antes de chegar até o consumidor final o combustível precisa ser misturado ao Etanol Anidro. Portanto, a porcentagem que pagamos no produto final é o valor que as distribuidoras pagam por essa substância.

Distribuição e revenda

Ao chegar no posto, a gasolina já tem embutida em seu valor todos esses itens descritos acima. Nesse sentido, esse índice mostrado no gráfico se refere ao custo que a empresa tem para comercializar o produto e também a margem de lucro no litro.

3 – O mercado internacional e o impacto na alta dos combustíveis

Como dito anteriormente, o preço do barril é cotado de acordo com o mercado internacional. O Preço de Paridade Internacional (PPI) é quem dita as constantes oscilações de valor do combustível. E claro, a lei de oferta e procura influencia diretamente no preço. Todavia, quanto existem oscilações de valor no mercado internacional, é necessário fazer o reajuste no país.

Nos últimos 12 meses o preço do barril de petróleo no mercado internacional aumentou 70% em dólar e com a desvalorização do real comparada a moeda americana, o preço pago pelos brasileiros fica ainda mais caro.

“A formação do preço da gasolina depende de duas variáveis que são muito voláteis: o preço do petróleo e o câmbio. Então, ela sempre fica um pouquinho para trás nos reajustes, para esperar uma estabilização maior dos preços no período.”, afirma o economista-chefe da Ativa, Étore Sanchez, a CNN Brasil.

4- Petróleo em alta pelo mundo

Apesar da queda do valor do petróleo no período da pandemia em 2020, os valores em 2021 voltaram a subir. Contudo, a baixa produção global é a principal culpada nessa alta, justamente no momento onde o consumo global voltou a crescer rápido.

Os Estados Unidos são os maiores produtores globais de petróleo, e com a onda os impactos da furação Ida na região em setembro de 2021, 88% da produção de petróleo bruto (1,6 milhão de barris por dia) e 83% da produção de gás natural (1,8 bilhão de pés cúbicos por dia) foram afetadas. Portanto, especialistas da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) afirmar que apenas no começo de 2022 a oferta do produto no mercado será normalizado por conta dos impactos do desastre natural.

Um levantamento feito pela empresa de monitoramento norte-americana GasBuddy aponta que as perdas de produção vão aumentar o preço da gasolina no varejo em 5 a 10 centavos de dólar por galão – R$ 0,25 a R$ 0,51 por galão, na cotação atual. (fonte: Tribuna Online)

Em contrapartida, o avanço da vacinação contra a covid-19 traz de volta a mobilidade dos grandes centros e com isso, uma necessidade maior de consumo de combustível. O que afeta diretamente, também, os valores.

Como a alta dos combustíveis afeta a população e os postos?

Mesmo muita gente achando que a alta dos combustíveis atinge somente aqueles que dirigem, este é um problema que afeta a toda população. Afinal, hoje no país 30% do custo da passagem de ônibus corresponde ao preço do diesel. Além disto, o custo de fretes também fica afetado, já que fica caro fazer o transporte de mercadorias para os grandes centros.

Já os postos, podem precisar diminuir a margem de lucro para manter as vendas ou verem uma diminuição da venda por litro, movimento este que já vimos do início de 2021 até o momento. Afinal, muita gente vai pensar duas vezes antes de tirar o carro da garagem.

Projeto de lei prevê estabilização de preço dos combustíveis

Uma alternativa estudada pelo governo para tentar estabilizar o valor praticado nos combustíveis é mudar a política de preços praticados na Petrobrás. O principal objetivo é conter os sucessivos aumentos.

O texto, aprovado pelo Senado e já rumando para Audiências Públicas, prevê que o preço de derivados do petróleo seja pautado não só por preços internacionais, mas também pelos custos internos de produção, tudo isso para tentar refletir melhor nossa realidade local.

Dentre os pontos dos documentos está a criação de uma “banda móvel de variação”. Logo, na prática, é uma forma de estabelecer limites de variações e de definir a frequência dos reajustes feitos, além de criar mecanismos de compensação.

Por exemplo, quando os preços estiverem mais baixos do que os valores definidos pelo governo, a diferença dos recursos será guardada. Entretanto, quando os valores estiverem acima, a verba guardada poderá ser usada para manter o preço dentro da banda. Criando assim, uma estabilização maior dos preços nas bombas.

O “Programa de Estabilização” proposto terá seus valores definidos pelo governo.

Imposto sobre exportação do petróleo bruto

Para colocar em prática o novo programa, foi criado no texto uma proposta de impostos sobre exportação sobre o petróleo bruto. Os valores serão taxados de acordo com o valor de cotação do barril, e estipula parâmetros de alíquotas mínimas e máximas que poderão ser escolhidas pelo governo federal. Confira abaixo a proposta:

A alíquota é marginal, isto é, incide sobre a parcela do valor de óleo. Por exemplo: com o barril a US$ 60, a incidência é de 2,5% a 7,5% sobre US$ 15. A parcela até US$ 45 é isenta. (fonte: minaspetro)

Portanto, além da nova taxa sobre exportações, se aprovado, o programa autoriza o governo federal a utilizar outras fontes:

Precificação justa

Para finalizar, o projeto também autoriza o governo a adotar alíquotas diferenciadas para empresas que destinem parte da produção de petróleo para o refino no Brasil. O objetivo é que haja capacidade de refino para atender a todo o mercado e que não seja preciso importar nada. Sendo assim, seria possível precificar os combustíveis e os custos de produção em reais e não em dólar como feito atualmente.

Em suma, o preço dos combustíveis varia muito pois se pauta nos valores do mercado internacional e na lei de oferta e procura do período. Com a aprovação do projeto e as novas regras entrando em vigor, em tese, teríamos uma melhora considerável dos valores praticados nas bombas. Entretanto, ainda não a data definida para as Audiências Públicas da proposta.